Pedro Rimales, o curandeiro
Certo dia, Pedro Rimales chegou a um país muito distante, cansado e sem um centavo. Então decidiu fingir-se de curandeiro para ganhar alguns tostões e não morrer de fome.
“Alguns tostões? Numa dessas até fico rico e poderoso”, pensou. Espalhou o boato de que era dotado de grande sabedoria, de que conhecia todas as doenças possíveis e imagináveis e de que curava com remédios misteriosos.
Mas não apareceu ninguém. Nem mesmo um simples doente com tosse.
Soube, então que o rei desse país muito distante tinha mania de médico e que todos os doentes, querendo ou não, tinham que esse tratar com ele.
“Tanto melhor”, pensou Pedro Rimales. “Se eu chegar a curar algum doente que o rei não tenha curado, até rei poderei vir a ser.”
E certa manhã, justamente aconteceu que um homem desse país distante acordou com muita preguiça e sem nenhuma vontade de trabalhar.
- Estou morrendo! – gritou. E atirou-se ao chão, fazendo-se de morto.
Cada vez que alguém se aproximava para vê-lo, o homem prendia a respiração e ficava duro.
- Está morto – diziam todos.
Pedro Rimales se pôs a observá-lo e percebeu que, quando não havia ninguém por perto, a camisa do morto subia e descia com sua respiração. Pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo.
- Por que não chamam o rei para curá-lo? – perguntou Pedro Rimales.
- E pra quê? Está louco, moço? Não está vendo que o homem está morto?
Pedro Rimales sorriu, com ar de mistério e disse:
- A morte é uma doença que também pode ser curada. Se a gente souber com quê, é claro.
Todo mundo ficou pasmo. Havia alguém capaz de curar a morte?
- Então cure o homem que acaba de morrer – disse alguém.
- Eu faria isso, mas o rei pode se zangar. Talvez até mandasse me matar.
- Mas se você pode curar o homem, é sinal de que o rei também pode – replicaram.
E foram buscar o rei. Este chegou pouco depois, numa carruagem cheia de potes de ungüento, caixinhas de pós e ervas mágicas. Fez o morto cheirar sais, untou-o com pomadas e tentou fazê-lo tomar uma poção especial. Porém o preguiçoso, cansado de se fazer de morto, havia caído em sono profundo e nenhuma das misturas do rei conseguiu fazê-lo acordar. Furioso, o rei chamou Pedro Rimales:
- Tente você, agora. Mas se não conseguir pôr o morto de pé, farei com que dêem uma surra. Assim acabará toda a sua vontade de fazer-se passar por curandeiro.
Pedro Rimales enfiou um montão de folhas de diferentes plantas numa cuia e misturou tudo com água do rio. Acendeu um charuto e por três vezes soprou fumaça na cuia. Aproximou-se do morto com a outra mão, sem que ninguém percebesse, apagou o charuto no traseiro do homem.
Ao sentir a terrível dor da queimadura, o morto deu um berro e ficou de pé num pulo. As pessoas mal podiam acreditar no que estavam vendo. E Pedro Rimales foi aclamado rei, recebendo sua coroa e seu manto.
Ele reinou por muitos e muitos anos naquele país tão distante, até que um dia, farto de receber embaixadores e de dançar a valsa, resolveu ir embora. Tirou a coroa e o manto e foi correr o mundo.
(ORAMAS, Rafael Ribeiro. Pedro Rimales, o curandeiro. In: Contos populares para crianças da América Latina. 2ed. Trad. e adaptado por Neide T. Maia Gonzáles. São Paulo, Ática, 1985. P.66-71)
- COMPREENSÃO TEXTUAL:
- Após fazer a leitura do texto, responda as questões que seguem:
a) Por que Pedro Rimales resolveu tornar-se curandeiro?
b) Como fez para tornar-se conhecido?
c) Apesar da propaganda, Pedro não conseguia clientes. Por quê?
d) Pedro ficou desanimado por isso?
- Vamos pensar um pouco mais sobre o texto, o que seus personagens e suas atitudes revelam.
a) Há nessa história três personagens principais. O homem preguiçoso, Pedro Rimales e o rei. Este último obrigava os doentes a se tratar com ele. O que você acha dessa atitude?
b) Revoltado por não conseguir curar o súdito, o rei o entregou a Pedro. Você acredita que o monarca agiu assim por respeito ao doente?
c) O povo que habitavam o reino era obediente ou medroso? Justifique sua resposta.
d) Em relação a Pedro Rimales, ele era esperto ou maldoso? Comente sua resposta.
- O referido texto aborda alguns assuntos como trabalho, honestidade e tirania. Pense a respeito desses assuntos:
a) Pedro Rimales não tinha uma profissão definida e exercia indevidamente uma ou outra. Ele estava certo? Em nossa sociedade, há pessoas iguais a Pedro Rimales?
b) Podemos perceber que o povo só podia consultar com o rei, significando que o rei utilizava de tirania para governar. Em nosso país isso ocorre? Justifique sua resposta.
c) O personagem que dá nome ao texto, não demonstra interesse por um trabalho mais “digno”. Você acredita que o trabalho digno é importante? Por quê?
- Você sabe o que é um curandeiro? Devemos preferi-los aos médicos? Justifique.
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