quinta-feira, 30 de julho de 2009

Textos utilizados na 2ª oficina do TP4

Textos Verbais - reestruturação textual

Um encontro fantástico

Todos os anos eles se reuniam na floresta, à beira de um rio, para ver quantas andava a sua fama. Eram criaturas fantásticas e cada uma vinha de um canto do Brasil. O Saci-Pererê chegou primeiro. Moleque pretinho, de uma perna só, barrete vermelho na cabeça, veio manquitolando, sentou-se numa pedra e acendeu seu cachimbo. Logo apontou no céu a Serpente emplumada e aterrizou aos seus pés. Do meio das folhagens, saltou o Lobisomem, a cara toda peluda, os dentes afiados, enormes. Não tardou, o tropel de um cavalo anunciou o Negrinho do Pastoreiro montado em pelo no seu baio.

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Só falta o Boto – disse o Saci, impaciente.

Se tivesse alguma moça aqui, ele já teria chegado para seduzi-la – comentou a erpente Emplumada.

Também acho – concordou o Lobisomem. – Só que eu já a teria apavorado.

Ouviram nesse instante um rumor à margem do rio. Era o boto saindo das águas na forma de um belo rapaz.

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Agora estamos todos – disse o Negrinho do Pastoreiro.

E então? – perguntou o Boto, saudando o grupo. – Como estão as coisas?

Difíceis – respondeu o saci e soltou uma baforada. - Não se assustei muita gente nesta temporada.

Eu também não – emendou a Serpente Emplumada. – Parece que as pessoas lá no Nordeste não tem mais tanto medo de mim.

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Lá no Norte se dá o mesmo – disse o Boto. – Em alguns locais, ainda atraio as mulheres, mas em outros elas nem ligam.

Comigo acontece igual – disse o Negrinho do Pastoreiro. – Vivo a achar as coisas que as pessoas perdem no Sul. Mas não atendi muitos pedidos este ano.

Seu caso é diferente. – disse o Lobisomem. – Você não é tão assustador como eu, o Saci e a Serpente Emplumada. Você é um herói.

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Mas a dificuldade é a mesma – discordou o negrinho do Pastoreiro.

Acho que é a concorrência – disse o Boto. – Andam aparecendo muitos heróis e vilões novos.

Pois é – resmungou a Serpente Emplumada. – Até as bruxas anadam importando. Tem monstros demais por aí....

São todos produzidos por homens de negócios – disse o saci. – É moda. Vai passar...

Espero – disse o Lobisomem. – Bons aqueles tempos em que eu reinava no país inteiro, não só no cerrado.

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A diferença é que somos autênticos – disse o Negrinho do Pastoreiro. - Nós nascemos do povo.

É verdade – disse o Boto. - Mas temos de refrescar a sua memória.

Se pegarmos no pé de uns escritores, a coisa pode melhorar – disse a Serpente Emplumada.

Eu conheço um – disse o Saci. - Vamos juntos atrás dele! - E foi o primeiro a se mandar, a mil por hora, em uma perna só.

Conto de João Anzanello Carrascoza.




O Jeca e o burro enfeitiçado

O Jeca parou, na praça ensolarada, os seis burros que vinha trazendo para o mercado, e entrou na bodega para molhar a garganta. Um dos estudantes disse para os outros: “Eis aí o dinheiro que precisamos para a nossa festinha. Roubamos o burrinho malhado, aquele ali, vendemos na feira e pronto”. Os outros argumentaram que o Jeca ia descobrir, ia ficar furioso, dar parte, todos podiam acabar na cadeia, mas o que propusera a idéia disse só: “Tirem o burro e vendam na feira. Eu fico aqui no lugar do burro e me arranjo”.

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Quando o Jeca saiu da birosca não tinha seis burros. Tinha cinco burros, e, no lugar do sexto, um rapazinho alourado, usando os arreios e os freios do burro. O Jeca, furioso, agarrou o rapaz para perguntar o que é que era feito do sexto animal.

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O rapaz caiu de joelhos e, antes de qualquer pergunta, lamentou: “Perdão, meu irmão, perdão. Perdão, meu amo. Não me bata. Não me bata que não sou burro!”. E contou: era filho de um mágico. Mas nunca conseguia aprender as mágicas do pai, que o obrigava a seguir a mesma carreira. Isso criara, entre ele e o pai mágico, sérias desavenças.

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O pai tentando intimidá-lo, ameaçou transformá-lo em burro, caso ele não passasse no vestibular para a Universidade das Mágicas. Mas ele não conseguia aprender. E um dia, numa explosão de irritação, o pai transformara-o mesmo num burro. E ele ficara condenado a ser burro durante um ano, até exatamente aquele momento.

“Solte-me, senhor meu dono, que prometo em seis meses lhe pagar o que eu valia como burro.”

O fazendeiro, penalizado e espantado, e um tanto intimidado, soltou o rapaz. Abanando a cabeça, e volta e meia voltando-se para trás, para olhar o ex-burro, dirigiu-se à feira e vendeu os outros animais.

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Mas qual não é a sua surpresa quando, depois de fazer todas as compras de que necessitava, encontrou em seu mais completo estado de burro, o burro que antes vira transformar-se em estudante.

Não se conteve. Aproximou-se rapidamente, deu várias pauladas no burro, para espanto e irritação de todos em volta, e gritou, possesso: “Imbecil! Imbecil! Mal te soltei e você foi logo de novo arranjar encrencas com seu pai!”

(FERNANDES, Millôr. O Jeca e o burro enfeitiçado. In: Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro, Nórdica, s.d.p.37)


Um comentário:

  1. olá!
    participei dessa atividade textual e gostei muito.Acho que os encontros do Gestar estao sendo bem criativos e trazem muitas ideias novas.
    parabéns Liliane
    Alexandra Mauricia

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